"O pretinho velho chegou trazendo uma imagem de São Benedito, que guardava um vasto oratório sempre com uma lâmpada acesa..."
O nome dele era Herculano Cintra e chegou a Poços de Caldas vindo da cidade paulista de Amparo, em 1889, um ano após a abolição. Ex-escravo que, como tantos negros, herdou o sobrenome da família a que pertencia, Herculano - que era cearense - trouxe na bagagem algum dinheiro, uma imagem de São Benedito e o desejo de construir, ao santo, uma capela.
Em 1902, buscou na Câmara dos Vereadores permissão para, sob os escombros da antiga necrópole da cidade, no local chamado Campo Santo, erguer a igreja. Não bastasse a força de vontade, ele precisaria, ainda, reunir pessoas motivadas a enfrentar as dificuldades impostas pela sociedade da época e trabalhar para transformar o antigo cemitério em local de devoção.
Com a permissão da Câmara, a comunidade se uniu e, em 13 de maio de 1904, foi realizada a primeira festa dedicada a São Benedito. A Revista Poços, que circulava na época, convidou a população a prestigiar o evento, que pretendia levantar fundos para a construção da capela. O texto confirma, também, a presença de ternos de congos, de grupos de moçambiques e dos caiapós.
"Um conto de réis" foi a renda arrecadada. O dinheiro serviu para construir a capelinha, inaugurada em 1905, com frente para a atual rua Rio Grande do Sul. Naquela época, no entanto, a cidade tinha como matriz a capela de Bom Jesus da Cana Verde que, conforme concluiu a Igreja Católica, em 1909, estava pequena para os cultos religiosos da estância. Assim, a nova matriz de Nossa Senhora da Saúde foi erguida também no terreno do antigo cemitério. Um ponto, no entanto, chama a atenção: ela foi construída de costas para a capela de São Benedito, fazendo frente para a atual rua Assis Figueiredo, como se a coexistência dos dois santos fosse tão precária quanto a de seus devotos.
Com várias polêmicas em torno da questão, em 1926 São Benedito "subia" o morro do Itororó, onde fica hoje localizada a igreja que o homenageia. Era inaugurada a nova capela dedicada ao frei negro. O evento foi marcado pela tradicional presença dos ternos de congos e caiapós, além dos moçambiques que, desde sempre, contaram, em cantos e danças, a história de sua descendência.
(Jesuane Salvador)
Extraído da Revista LACRÈME
Ano 01 Nº 05
Poços de Caldas - MG
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