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30/06/2011

São Benedito em Poços de Caldas

Em Poços de Caldas, a história da devoção ao Santo, segundo relatos de devotos e historiadores, inicia-se ao final do séc. XIX com a Festa de São Benedito. Segundo a Tita, em Poços, “tudo o que se sabe sobre o negro foi escrito pela Festa de São Benedito”.
Naquela época, os sesmeiros e seus familiares criavam porcos para servir à Corte e produziam uma agricultura de sobrevivência. Cidade de pequeno comércio e pequena indústria de doce e licores produzia para atender os banhistas ou turistas das águas sulfurosas. Chegaram em 1.886, os italianos para o trabalho nas fazendas, que se iniciavam na produção cafeeira, para o trabalho urbano de construção e também em chácaras.
Após a Abolição mudou-se para Poços os negros da vizinhança, sendo criados vários mocambos, inclusive um perigoso, na Rua Rio Grande do Sul chamado de Botafogo onde, quase semanalmente, havia tiroteio e morte. Poços também tinha muitos negros bons que festejavam São Benedito, como o Vicente Raimundo. Nessa época, final do séc. XIX chegou a Poços o “tio Herculano”, um preto originado de Amparo, que fundou e zelou a primitiva capelinha, como organizou o Culto a São Benedito. “Foi o tio Herculano que fez a primeira oferta e deixou uma chácara para o milagroso Santo e com sua venda (...) se pode iniciar a construção da atual Igreja em terreno doado pelo Coronel Agostinho. (Mourão: 1.952, 275)”.
Se por um lado temos o dado do historiador, por outro temos a narrativa popular da memória de “tia Geni” (Geni Siqueira). Simpática e grande colaboradora comunitária, é também presidente do bloco carnavalesco Sociedade Amigos do Casca (em homenagem ao seu filho Casca, jogador de futebol do Flamengo e que morreu repentinamente durante um jogo no campo de Futebol da Cascatinha), que diz a um grupo de pesquisadores em 1.991: “A congada de São Benedito foi fundada aqui e tinha um senhor, Herculano Mourão. Ele era negrão, então ele doou aquele terreno lá onde é a igreja de São Benedito e depois, já que tinha a igreja, tinha que ter a congada. Aí meu avô que chamava Justino e mais Joaquim Matias, que era primo do meu avô e o que hoje é bisavô das minhas crianças – José Balbino fundou uma congada de São Benedito, Congo de capa (Terno de Congos de São Benedito que representa a epopéia de Mouros e Cristãos, conhecidos como Carlos Magno e os Doze Pares de França). Capas azuis representam os espanhóis que são católicos. Capa vermelha representa os turcos. Então aí tem a Embaixada.
O grupo de pesquisadores registra: “Os nomes históricos da congada são Herculano de Araújo Cintra e Raimundo Mourão, ex-escravo da família de Mário Mourão e que foi casado com a mulata Zequinha, cujo filho casou-se com Lourdes (que mora em Belo Horizonte) irmã de Mercedes, guardiã da Bandeira e atual responsável pela saída do que resta do grupo. Mercedes é mãe de Ayrton Santana, o Mestre Bucha, que tinha um conjunto de samba com mulatas; é mestre de bateria da Escola de Samba SACIPÔ; mestre da banda do Colégio Municipal Dr. José Vargas de Souza”, também representa “Oliveiros”, personagem da congada”.
Todos citados por Geni são verdadeiros e reconhecidos na história da congada, como o Jaguanário, que foi Carlos Magno, irmão de “Moleque César”. É tia Geni quem afirma que “São Benedito surgiu aqui” (na Cascatinha).



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