Está completando 107 anos a Festa de São Benedito e ontem, 11 de maio, aconteceu mais uma cerimônia da Retirada dos Caiapós da Mata. Estavam presentes 5 ternos de Congos e 2 grupos de Caiapós, cercados por centenas de pessoas que acompanhavam atentas a cerimônia.
Segundo a jornalista Jesuane Salvador, no seu texto "A Congada pede passagem” extraída da Revista LA CREME, no Terno de São Benedito, o mais antigo da cidade, ocorre a Embaixada, auto que encena a luta entre mouros e cristãos representados pelo rei Carlos Magno e os Doze Pares de França - os melhores espadachins daquele reino.
Instrumentos de sopro, pandeiros, violões, cavacos, banjos, sanfonas, surdos e as caixas marcam presença. A musicalidade é característica forte no terno de Nossa Senhora do Rosário. Os tambores mais graves garantem o som predominante e as caixas são usadas para o contraponto rítmico da base percussiva.
A congada mirim de Santa Ifigênia traz os filhos, netos ou bisnetos dos congadeiros. Os congos de Nossa Senhora do Carmo são responsáveis por um cortejo elegante realizado por gente como o Senhor Altamiro, Elaine, Jeferson, Paulo e todos os que me receberam e ensinaram inúmeras canções.
Trazendo espada sinuosa, a expressiva capitã do terno de São Jerônimo e Santa Bárbara aparece seguida das filhas e filhos-de-santo, com vestes rituais e coloridas guias nos pescoços. Ela “é Orlanda da Conceição e se define como “capitã-mulher”, coisa que não se acha fácil”.
Os congos chegam acompanhados de dois grupos de caiapós, dos bairros São José e Vila Cruz. Os "índios" trazem rostos e corpos pintados e ostentam grandes cocares. Dançam em coreografia de guerra. Não cantam e não falam porque os índios não falavam a língua dos colonizadores. Entre seus rituais peculiares está a cerimônia do mel, a retirada dos caiapós do mato e a tradicional perseguição para o resgate da bugrinha.
Um homem de vestes coloridas sapateia, fazendo ressoar os chocalhos presos ao tornozelo direito: é o Moçambique. O tempo levou consigo os companheiros e apenas ele representa a dança que, há um século, acompanhava, em dezenas de bailantes, a procissão.
Há tanta riqueza de detalhes, de cores e de universos dentro de universos em cada um dos grupos... Vale sentir, ver e acompanhar. Difícil é não ficar perplexo diante de tanta música, história e, sobretudo, da força da palavra “povo”. Talvez não haja definição mais perfeita para os dias que marcam a primeira quinzena de maio em Poços de Caldas senão a de um congadeiro. “Pra falar da congada não adianta só oiá as fitas que alvoroça do povo dançando... Quem quiser saber da congada tem que, primeiro de tudo, saber da angústia dos negros, dos sofrimentos dos índios e da fé que enche o coração... O congo tá na nossa alma. Nóis somo o povo e a fé do povo não carece de muita palavra!”
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